Lastro em campo: percursos ancestrais e cotidianos
América Central + México
2015-2016 ︎ Residência + Exposição
Residência autônoma que compreendeu viagens pela América Central e México, além de posterior exposição no Sesc Consolação, São Paulo, realizadas por quinze participantes das áreas de arte e curadoria. Lastro em campo foi um marco para a trajetória da plataforma, pois reuniu seus dois principais processos de trabalho – residências artístico-curatoriais e as exposições, inaugurando novos métodos de viagem e parceria entre curadoria e artistas. Essa dimensão de pesquisa e troca pôde ser experimentada pelo público na exposição.
A viagem durou ao todo cinco meses. Iniciou no Panamá, com o artista carioca Pedro Victor Brandão, e seguiu para a Costa Rica, com o paulistano Danilo Volpato. Na Guatemala, participaram: os artistas Daniel Albuquerque, Lucas Parente e Mariana Guimarães, do Rio de Janeiro, além da curadora Catarina Duncan, também carioca; Maíra das Neves e Luísa Nóbrega, de São Paulo; e o artista guatemalteco Edgar Calel. No México, último país visitado, estiveram: Thais Medeiros, Maya Dikstein, Lucas Parente e Jonas Aisengart, do Rio de Janeiro; Jonas Van Holanda, de Fortaleza; Luísa Nóbrega; o curador Leonardo Araújo, de São Paulo; e a curadora belga-brasileira Olivia Ardui.
Lastro em campo: percursos ancestrais e cotidianos (“Lastro on the field: ancestral and everyday pathways”) Central America + Mexico + Brazil
2015-2016 ︎ Residency + Exhibition
An autonomous residency that included trips around Central America and Mexico, as well as a subsequent exhibition at Sesc Consolação, in São Paulo, realized by fifteen participants from the fields of art and curating. Lastro em campo was a mark in the platform’s trajectory, as it joined together two of its main processes of work — artistic-curatorial residencies, and exhibitions, inaugurating new methods of traveling and of creating partnerships between curators and artists. This dimension of research and exchange was displayed for the public to experience in this exhibition.
The trip lasted five months total. It began in Panama, with the artist from Rio de Janeiro, Pedro Victor Brandão, and continued on to Costa Rica, with the São Paulo artist Danilo Volpato. In Guatemala, the participants were: the artists Daniel Albuquerque, Lucas Parente and Mariana Guimarães, from Rio de Janeiro, as well as the curator Catarina Duncan, also from Rio; Maíra das Neves and Luísa Nóbrega, from São Paulo; and the Guatemalan artist Edgar Calel. In Mexico, the last country that was visited, there were: Thaís Medeiros, Maya Dikstein, Lucas Parente, and Jonas Aisengart, from Rio de Janeiro; Jonas Van Holanda, from Fortaleza; Luísa Nóbrega; the curator Leonardo Araújo, from São Paulo; and the Belgian-Brazilian curator Olivia Ardui.
︎Texto para a exposição
Percursos ancestrais e cotidianos
Durante o primeiro século depois da conquista do México e do Peru, indígenas e mestiços começaram a registrar as tradições de seus antepassados – até então comunicadas por hieróglifos e códices – por meio da escritura apreendida dos hispanos. Geralmente em língua asteca e nos idiomas dos Maias de Guatemala e Yucatán, esses textos compõem preciosos relatos e fontes incontestáveis sobre modo de vida e visões de mundo, como o Popol Vuh e Historia de los Reynos de Colhuacan y de México, ambas anônimas. De valor similar, há o conjunto de obras do frei espanhol Bernardino de Sahagún que logrou reunir o núcleo central da cultura asteca – em sua maioria, antigos sacerdotes e sábios pertencentes às suas elites intelectuais.
Infelizmente, essa metodologia de escuta e escrita adotada por Sahagún não foi seguida por seus descendentes. Muito do que conhecemos sobre a história dos povos originários da América foi escrito por não nativos. Narrada por sacerdotes espanhóis e portugueses em viagens religiosas, cientistas e antropólogos em rotas expedicionárias, a sabedoria indígena foi (e continua sendo) roubada, queimada e expropriada. No Brasil, a aculturação se dá na forma de genocídio permanente, que nunca se tornou pauta para políticas de governo. Invisibilizados em sua terra de origem, os indígenas brasileiros “(...) descobriram [na década de 1970 e 1980] que, apesar de eles serem simbolicamente os donos do Brasil, eles não têm lugar nenhum para viver nesse país. Terão que fazer esse lugar existir dia a dia e fazer isso expressando sua visão do mundo, sua potência como seres humanos, sua pluralidade, sua vontade de ser e viver.”[1]
Neste sentido, a pergunta que nos é posta, a nós artistas e pesquisadores residentes, é crucial: como escrever sobre história e culturas originárias sendo um estrangeiro? Escrever, aqui, encarado como trabalho artístico e conceitual. A todo momento corremos o risco do fetiche, do romantismo, da apropriação. É inevitável. Ao lado de cientistas e exploradores, os artistas sempre apareceram como protagonistas interculturais. Dos pintores viajantes aos agentes urbanos da gentrificação contemporânea, é preciso atenção e responsabilidade ao fazer o discurso defensor da conexão entre povos, entre culturas, entre classes. Ao se perceber em viagem, o turista aprendiz (à lógica de Mário de Andrade) deve ser um interlocutor. Deve fazer da alteridade sua escuta e observação, e do vínculo involuntário seu molde para desdobramentos de criação.
Lastro em Campo – percursos ancestrais e cotidianos conta com obras que versam sobre temas entre a história ancestral e o cotidiano das cidades, traz ao público a dimensão do ambiente de estudo e convivência diária como importante propulsor de diálogos entre os projetos de pesquisas. A exposição agrega instalações, performances, vídeos e objetos; um núcleo de pesquisa que reunirá o arquivo documental com processos e anotações de viagem; uma biblioteca com títulos acerca dos projetos de residência e uma programação paralela com falas e cursos que perpassará a mostra ao longo de todo seu ciclo.
Beatriz Lemos
[1] Krenak, Ailton. Encontros. Sergio Cohn [org]. Rio de Janeiro: Azougue, 2015.
︎Residência
Costa Rica
Guatemala
México
Panamá
︎Exposição no SESC Consolação (SP)
Registro do ciclo de palestras que integrou a programação da exposição Lastro em campo – percursos ancestrais cotidianos
︎Anexos
︎ Texto curatorial
︎ Catálogo da exposição
︎ Programação paralela
FICHA TÉCNICA
Curadoria e concepção: Beatriz Lemos
Artistas: Daniel Albuquerque, Danilo Volpato, Edgar Calel, Jonas Aisengart, Lucas Parente, Luísa Nóbrega, Maíra das Neves, Mariana Guimarães, Maya Dikstein, Pedro Victor Brandão, Thaís Medeiros e Van Holanda
Pesquisadores viajantes: Leonardo Araújo, Maria Catarina Duncan e Olívia Ardui
Projeto expográfico: Frederico Teixeira e Penelope Casal de Rey
Projeto gráfico: Casa 202 [Fernanda Porto e Linga Acácio]
Produção: Melanina Cultural - Melanie Graille
Produção executiva: Luísa Estanislau